Em Audiência Pública, diplomata ucraniano e sua esposa expoem relatos da guerra entre Ucrânia e Rússia

por Laiane Carniel publicado 14/06/2022 10h25, última modificação 15/06/2022 16h11

A Câmara de Vereadores de Pato Branco promoveu, no sábado (11), Audiência Pública com o objetivo de debater a vinda das famílias ucranianas para Pato Branco e para compartilhar as experiências, vivenciadas na guerra entre Rússia e Ucrânia, relatadas pelo diplomata ucraniano, ex-embaixador da Ucrânia no Brasil, Rostyslav Tronenko, e sua esposa Fabiana Tronenko. A Audiência contou com a presença de autoridades, imprensa e de representantes da comunidade ucraniana de Pato Branco.

O encontro, sugerido pela promotora e representante da Comunidade Ucraniana, Ivana Ostapiv Rigailo, e proposto pelo presidente da Câmara de Vereadores, Claudemir Zanco - Biruba (PL), e pelo vereador Januário Koslinski (PSDB), oportunizou um momento de socialização da realidade vivida pelos ucranianos, nesses quase quatro meses do conflito iniciado pela Rússia. Os relatos emocionaram o público, que manifestou solidariedade com a população que está vivendo nos locais invadidos.

A promotora Ivana Ostapiv Rigailo iniciou sua fala agradecendo pela Casa estar recebendo a comunidade ucraniana e afirmou ser uma honra receber o diplomata e sua esposa, mas que preferia que o motivo fosse outro. “Gostaria que o momento do nosso encontro fosse de alegria, de confraternização e paz mundial. Infelizmente não é isso e, para nós, é muito importante ouvirmos o que vocês têm para nos contar e compartilhar com a comunidade de Pato Branco esta triste experiência, a qual temos que ver como algo construtivo, pois o que acontece na Ucrânia afeta todos nós”, concluiu Ivana.  

A vice-prefeita Angela Padoan disse que não há motivos que justifiquem uma guerra e que nesse momento, receber as famílias, é receber nossos semelhantes que precisam de ajuda. “O povo pato-branquense é um povo muito solidário e empático. E este é o momento de lembrarmos que estamos falando de famílias e de crianças e que, quando falamos de pessoas, temos que lembrar que todos temos bagagem, que para elas, neste momento, é de muita dor e sofrimento, ou seja, precisamos ter a sensibilidade em recebê-las e o município está de portas abertas para o amparo e toda a ajuda que elas precisarem”, disponibilizou a vice-prefeita.

O diplomata Rostyslav Tronenko, em sua fala, explicou sobre o contexto da guerra e todos os interesses envolvidos no conflito, afirmando que não é a primeira disputa que a Rússia inicia com a Ucrânia e que o impacto humano e econômico é enorme. “Desde 2014 a Rússia vem atacando nosso país e quem mais está passando pela dificuldades da guerra é a população civil, já que os militares são preparados para enfrentar a situação, enquanto mulheres, crianças, pessoas deficientes e idosos se tornam refém do agressor. “Tem pessoas que sobreviveram ao holocausto e morreram nos territórios ocupados pelos russos”, lamentou ele, ao afirmar que os ucranianos estão em busca da paz, pois a guerra não é deles.

Fabiana, em seu relato, contou como está o cotidiano dos moradores, afirmando que a violência é maior do que a divulgada, que estão havendo casos de estupros e que os mortos estão sendo enterrados, até mesmo, nos quintais de casa, por não haver espaços em cemitérios, em virtude do grande número. Para ela, a demonstração de união entre os Poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário - e a igreja traz resultado para o povo e agradeceu a disposição dos pato-branquenses em receber as famílias. “São irmãos que estão em situação de vulnerabilidade social e emocional, que precisam encontrar o apoio incondicional”, disse ela.

Ação do Legislativo

Ao ser indagada pelo presidente da Câmara, sobre a possibilidade de algum tipo de colaboração feita pelo Legislativo, Fabiana explicou que as ações que eles estão desenvolvendo nos municípios tem o intuito de mobilizar as Câmaras de Vereadores a seguirem o exemplo do Senado, que aprovou o Projeto de Lei n° 423, de 2022, de autoria do senador Álvaro Dias (Podemos), que “reconhece o extermínio de ucranianos por meio da fome (Holodomor), entre os anos de 1932 e 1933, na Ucrânia, - durante o regime comandado por Stálin - e que causou a morte de milhões de ucranianos, como genocídio”. Fabiana explicou que a intenção é tentar evitar que o ato seja cometido na atualidade. O presidente da Casa comprometeu-se em apresentar o Projeto de Lei para os demais vereadores.

Sobre os relatos apresentados, ele disse que pensava que o mundo seria menos hostil. “Eu imaginava que, com a pandemia, a população iria repensar sua estada neste mundo, mas nós observamos que as pessoas se tornaram mais individualistas e nós, que estamos à frente de cargos, temos o dever maior de aproximar as pessoas e nos preocuparmos com o ser humano”. O presidente também explicou que o Legislativo aprovou Projeto de Lei que alterou a Lei do Aluguel Social (Lei nº 5.345, de 22 de maio de 2019), permitindo que o auxilio contemple, além dos pato-branquenses, os imigrantes de outros países. Encerrando a Audiência, entregou um livro documentário da história político-administrativa de Pato Branco.

 

Acolhimento das famílias

Em questionamentos feitos pelo público que acompanhou a Audiência, sobre a vinda das famílias ucranianas para Pato Branco, o pároco da Igreja Ucraniana de Pato Branco, Sandro Daniel Dobkowski, explicou que, até o momento, a cidade ainda não as recebeu, mas para os que quiserem se oferecer como voluntários, acolhedores, prestadores de serviços ou ajudarem de alguma forma, o contato para mais informações deve ser feito pela Secretaria Paroquial da Igreja Ucraniana, no telefone (46) 2604-0117.